Segundo os princípios éticos e de bem estar animal os animais possuem o direito à liberdade ambiental, ou seja, ausência de desconforto térmico ou físico. E o estresse térmico na produção animal é um desafio significativo, sendo a implementação de práticas de manejo adequadas fundamental para garantir o bem-estar e a produtividade dos animais. (LEIA MAIS)
Para os animais, um ambiente é considerado confortável quando está em equilíbrio térmico com o meio, ou seja, o calor produzido (termogênese) pelo metabolismo animal é perdido (termólise) para o meio ambiente sem prejuízo apreciável ao seu rendimento.
O estresse térmico acontece quando a taxa de ganho de calor excede a perda, levando o animal a sair de sua zona de conforto térmico, que é dependente de diversos fatores, sendo alguns ligados ao animal, como peso, idade, estado fisiológico, tamanho do grupo, nível de alimentação e genética e outros ligados ao ambiente como a temperatura, velocidade do vento, umidade relativa do ar, tipo de piso.
Desta forma na produção animal, seja bovinocultura leiteira ou de corte, o animal não deve ser avaliado isoladamente, mas também o ambiente em que ele vive, pois sabemos que o meio influencia e interage com seu genótipo, podendo alterar o fenótipo (expressão de suas características).
Então a busca por técnicas para elevar a produção animal deve considerar o animal (genótipo) e seu ambiente externo. O estudo da interação entre o genótipo e o ambiente implicará diretamente no êxito da atividade.
Cada região do Brasil possui suas particularidades climáticas, e identificar os fatores ambientais que influenciam na vida produtiva do animal, permite ajustes nas práticas de manejo e nos sistemas de produção, oferecendo sustentabilidade e viabilidade econômica.
Para avaliar os efeitos provocados pelo calor foram desenvolvidos vários índices com o objetivo de expressar o conforto do animal em relação ao ambiente. O índice mais utilizado é o de temperatura e umidade (ITU), que combina os efeitos da temperatura ambiente (TA) e da umidade relativa do ar (UR) sobre o desempenho de bovinos, originalmente desenvolvido por Thom.
Segundo resultados de estudos é considerado:
- – até 74 ITU confortável,
- – entre 75 e 78 ITU alerta aos produtores,
- – de 79 a 83 ITU significa perigo,
- – acima de 84 ITU caracteriza emergência(14).
Efeitos do Estresse Térmico
O estresse térmico na produção animal pode levar a uma série de problemas, influenciando na reprodução, na produção, na saúde e no bem estar dos animais.
- Redução na Ingestão de Alimentos:
- Altas temperaturas podem levar à diminuição do apetite, resultando em menor consumo de alimentos pelos animais. Isso afeta diretamente o ganho de peso e a produção.
- Problemas Reprodutivos:
- O estresse térmico pode influenciar negativamente a reprodução tanto em machos quanto em fêmeas. Nas fêmeas pode levar a taxas de concepção mais baixas, aumento nas taxas de aborto e redução na eficiência reprodutiva geral. Em machos acarreta perda na qualidade do sêmen devido principalmente ao aumento de defeitos espermáticos. Pode causar também degeneração testicular e diminuição da libido.
- Impacto na Produção de Leite:
- Vacas leiteiras sob estresse térmico podem experimentar uma diminuição na produção de leite. A qualidade do leite também pode ser afetada.
- Aumento na Mortalidade:
- Animais sob estresse térmico têm maior probabilidade de sofrer com doenças e condições de saúde. Isso pode resultar em taxas mais altas de mortalidade na produção animal.
- Problemas Respiratórios:
- Em condições de calor extremo, os animais podem apresentar dificuldades respiratórias, especialmente se não houver ventilação adequada nos ambientes onde estão alojados.
- Estresse Fisiológico:
- O estresse térmico desencadeia respostas fisiológicas, como aumento na produção de cortisol, que, a longo prazo, pode ter efeitos negativos no sistema imunológico e na saúde geral dos animais.
- Redução na Eficiência Alimentar:
- A diminuição na ingestão de alimentos combinada com um aumento nas demandas energéticas para lidar com o estresse térmico pode resultar em uma redução na eficiência alimentar.
- Comportamento Anormal:
- Animais estressados podem apresentar comportamentos anormais, como agitação, vocalização excessiva e agressividade, o que pode afetar o ambiente de criação.
- Redução na Qualidade da Carne:
- O estresse térmico pode influenciar negativamente a qualidade da carne, afetando características como a maciez e a textura.
- Custo Econômico:
- O estresse térmico não apenas impacta a saúde dos animais, mas também tem implicações econômicas significativas, resultando em perdas na produção e aumento nos custos de cuidados com a saúde animal.
Na Reprodução Animal
O estresse pode afetar negativamente a reprodução dos animais de diversas maneiras. Pode levar à redução na taxa de concepção, aumento do intervalo entre partos, diminuição na produção de leite, e até mesmo influenciar a qualidade do esperma nos machos. Fatores como estresse térmico, nutricional ou ambiental podem contribuir para esses efeitos, destacando a importância de práticas adequadas de manejo para otimizar o desempenho reprodutivo do rebanho.
O calor excessivo pode ter impactos significativos nos touros, afetando diretamente o processo reprodutivo. Alguns pontos relevantes incluem:
1. Qualidade do Sêmen: Altas temperaturas podem prejudicar a qualidade do esperma nos touros, reduzindo a viabilidade, a motilidade e a morfologia dos espermatozoides. Isso, por sua vez, diminui a eficácia na fertilização.
2. Taxa de Concepção: O estresse térmico está associado a uma menor taxa de concepção em vacas, pois a qualidade do sêmen comprometida influencia a capacidade de fertilização.
3. Intervalo entre Partos: O estresse térmico pode aumentar o intervalo entre partos nas fêmeas, prolongando o tempo necessário para a reprodução bem-sucedida.
4. Perda de Peso e Condição Corporal: O calor excessivo pode levar à redução do consumo de alimentos, resultando em perda de peso e condição corporal inadequada, o que também afeta a capacidade reprodutiva.
5. Menor Atividade Sexual: Touros submetidos a estresse térmico podem exibir menor atividade sexual, reduzindo as chances de cobertura bem-sucedida.
6. Impacto na Saúde Geral: Além dos efeitos diretos na reprodução, o estresse térmico pode comprometer a saúde geral dos animais, tornando-os mais suscetíveis a doenças e infecções.
Como identificar o estresse térmico?
Através da análise dos parâmetros fisiológicos conseguimos identificar se o animal está em estresse calórico. Ele estará com temperatura elevada, frequência respiratória e cardíaca elevada.
O que fazer para diminuir os efeitos do estresse térmico?
Para reduzir os impactos, é fundamental implementar estratégias de manejo, como:
- Fornecer sombra,
- Garantir boa ventilação,
- Oferecer água fresca em abundância e, em alguns casos,
- Utilizar sistemas de resfriamento, especialmente em regiões com climas mais quentes.
- Escolher raças mais adaptadas ao clima tropical
O cuidado com o conforto térmico é essencial para otimizar a eficiência reprodutiva e manter a produtividade do rebanho bovino.
Perguntas Frequentes
CONCLUSÃO
Em conclusão, o estresse térmico pode ter sérios impactos na eficiência reprodutiva, resultando em redução na produção de esperma, menor taxa de concepção e outros problemas de saúde. Estratégias de manejo, como fornecimento de sombra, ventilação adequada e oferta de água fresca, são cruciais para minimizar os efeitos do estresse térmico, promovendo um ambiente mais saudável e sustentável para os touros mestiços na produção pecuária.
Referências
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0022030220305865
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1871141314005927
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/16755/13684